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sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Colar de Pérolas



COLAR DE PÉROLAS

I

Francis Jahn repuxou seus lábios finos num sorriso amargo, contemplando a cena à sua frente. “Mais uma que morre e esses idiotas não acharam nada ainda”. A cena que ele e seus companheiros de trabalho observavam era, de fato, brutal, mas já rotineira há algum tempo, desde que Ibrahim Felix, que, mais tarde seria celebrizado com a alcunha de Ali Babá, por ter assassinado 40 mulheres em pouco mais de dois meses, começou seus crimes ali, em plena cidade de ...
Naquele sujo e decrépito quarto de bordel, sentada e amarrada a uma cadeira de madeira ordinária – como tudo naquele antro – jazia o corpo nu de uma mulher. O cadáver, como todos os outros, que seriam encontrados a partir de então, tinha um horrível hematoma em torno do pescoço, o que indicava que fora vítima de fortíssima compressão naquela região, agravada pela asfixia que o levou à morte.  Contudo, o que era mais perturbador na cena, e que deixava os policiais ainda mais irritados, era o fato de o assassino transformar todas as suas vítimas em “ampulhetas humanas”, com a finalidade de zombar das autoridades, que sempre chegavam tarde demais no local dos crimes. A mulher tinha ambos os pulsos cortados longitudinalmente, das mãos até os cotovelos, o que fazia com que o sangue jorrasse aos borbotões e fosse conduzido por estruturas metálicas côncavas até um recipiente de vidro semelhante a um número 8: largo em cima e embaixo, mas estreito no meio, bem à maneira de uma ampulheta, que ficava imediatamente abaixo da cadeira onde o cadáver estava.
Àquela hora, três e meia da manhã, como Jahn constatou no relógio amarelo da parede, o sangue não escorria mais, e a vítima já estava morta há pelo menos cinco horas. Acendendo um cigarro, Jahn aproximou-se do cadáver e não pôde deixar de esboçar um outro sorriso amarelo ao olhar fixamente para os seios da mulher inerte.
_ Um colar de pérolas! – sussurrou, de si para si, mas o capitão Mathew, famoso por sua audição sobrenatural, o ouviu. Corria, entre os policiais a anedota de que Mathew era capaz de ouvir o farfalhar de uma folha a um quilômetro de distância.
_ Como disse, Jahn? – perguntou o capitão, fitando nele os seus olhos escuros e fundos, sem nenhum vestígio de humor.
_ Nada – respondeu Jahn, refletindo sobre certos pensamentos pessoais.
Enquanto a perícia examinava a cena do crime, Francis Jahn saiu do quarto a passos lentos, esboçando um novo sorriso.

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