Colar de Pérolas
COLAR DE PÉROLAS
I
Francis
Jahn repuxou seus lábios finos num sorriso amargo, contemplando a cena à sua
frente. “Mais uma que morre e esses
idiotas não acharam nada ainda”. A cena que ele e seus companheiros de
trabalho observavam era, de fato, brutal, mas já rotineira há algum tempo, desde
que Ibrahim Felix, que, mais tarde seria celebrizado com a alcunha de Ali Babá,
por ter assassinado 40 mulheres em pouco mais de dois meses, começou seus
crimes ali, em plena cidade de ...
Naquele
sujo e decrépito quarto de bordel, sentada e amarrada a uma cadeira de madeira
ordinária – como tudo naquele antro – jazia o corpo nu de uma mulher. O cadáver,
como todos os outros, que seriam
encontrados a partir de então, tinha um horrível hematoma em torno do pescoço,
o que indicava que fora vítima de fortíssima compressão naquela região,
agravada pela asfixia que o levou à morte.
Contudo, o que era mais perturbador na cena, e que deixava os policiais
ainda mais irritados, era o fato de o assassino transformar todas as suas
vítimas em “ampulhetas humanas”, com a finalidade de zombar das autoridades,
que sempre chegavam tarde demais no local dos crimes. A mulher tinha ambos os
pulsos cortados longitudinalmente, das mãos até os cotovelos, o que fazia com
que o sangue jorrasse aos borbotões e fosse conduzido por estruturas metálicas
côncavas até um recipiente de vidro semelhante a um número 8: largo em cima e
embaixo, mas estreito no meio, bem à maneira de uma ampulheta, que ficava
imediatamente abaixo da cadeira onde o cadáver estava.
Àquela
hora, três e meia da manhã, como Jahn constatou no relógio amarelo da parede, o
sangue não escorria mais, e a vítima já estava morta há pelo menos cinco horas.
Acendendo um cigarro, Jahn aproximou-se do cadáver e não pôde deixar de esboçar
um outro sorriso amarelo ao olhar fixamente para os seios da mulher inerte.
_
Um colar de pérolas! – sussurrou, de si para si, mas o capitão Mathew, famoso
por sua audição sobrenatural, o ouviu. Corria, entre os policiais a anedota de
que Mathew era capaz de ouvir o farfalhar de uma folha a um quilômetro de
distância.
_
Como disse, Jahn? – perguntou o capitão, fitando nele os seus olhos escuros e
fundos, sem nenhum vestígio de humor.
_
Nada – respondeu Jahn, refletindo sobre certos pensamentos pessoais.
Enquanto
a perícia examinava a cena do crime, Francis Jahn saiu do quarto a passos
lentos, esboçando um novo sorriso.
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